Análise da Irena aponta que o transporte de hidrogênio verde na forma de amônia, via navios, será a mais competitiva para longas distâncias
Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
nayara.machado@epbr.com.br
Uma análise da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês) aponta que o transporte de hidrogênio via navios, na forma de amônia, será a forma mais competitiva de fazer o novo energético atravessar longas distâncias.
O hidrogênio verde está entre as grandes apostas para entregar energia limpa para setores difíceis de descarbonizar. Mas ainda há dúvidas sobre como será o transporte e distribuição, dadas sua alta volatilidade e localização dos projetos, já que muitos dos investimentos estão a um oceano de distância dos centros de consumo.
Uma das soluções em foco é o aproveitamento das infraestruturas de gás natural. Outra, é a definição de corredores marítimos de amônia limpa.
O documento da Irena aponta os dois caminhos como os mais atraentes até 2050: amônia em navios para grandes distâncias, redes de dutos para interiorização e distâncias mais curtas.
“Os navios de amônia são os mais atraentes para uma ampla gama de combinações. O custo de envio é relativamente pequeno em comparação com o custo de conversão de/para amônia e o custo de armazenamento. Assim, distâncias maiores têm impacto limitado no custo total, tornando-o mais atrativo à medida que a distância aumenta”, diz o estudo.
Já o custo dos dutos aumenta linearmente com a distância, o que torna a opção mais barata para distâncias curtas de até 3.000 km.
“O custo do transporte dutoviário varia de acordo com a vazão transportada — o dobro do diâmetro significa aproximadamente o dobro do custo, mas quatro vezes a vazão, o que reduz o custo específico por unidade de hidrogênio transportada. Por esse motivo, a distância em que os dutos são mais atraentes se expande à medida que o tamanho do projeto aumenta”.
Nos casos em que é possível reaproveitar a rede de dutos existente para o gás natural (por exemplo, América do Norte, Europa ou leste da China), o custo de investimento pode ser 65-94% menor do que o custo de um novo duto de hidrogênio. “Isso expande significativamente a distância ao longo da qual os dutos são atraentes para até 8.000 km.
É quase o dobro da distância da Ucrânia à Espanha ou da costa leste à oeste dos Estados Unidos”.
A economia, no entanto, fica condicionada à existência prévia da infraestrutura e à redução simultânea (geográfica e temporal) na demanda de gás natural.
A Europa já tem experiência de redirecionamento de gasodutos para hidrogênio, na Holanda, e há planos para estabelecer uma rede regional.
“Mesmo para combinações de distância e fluxo onde os navios são os mais atraentes, os dutos ainda podem desempenhar um papel no transporte de hidrogênio para o interior para centros de demanda que não estão no litoral”, destaca.
Três alavancas estão disponíveis para reduzir o custo de transporte até 2050, diz a Irena:
Inovação para reduzir o consumo de energia para a liquefação do hidrogênio e a conversão em amônia e depois reconversão em hidrogênio;
Economias de escala: o custo poderia cair até 80% ao atingir a maior escala possível para cada parte da cadeia de valor;
Aprender fazendo: a experiência global e o compartilhamento de lições levam a uma redução de custos de projetos iniciais que não tinham referência anterior, para o desenvolvimento de um padrão e a uma abordagem modular para muitos equipamentos.
A agência estima que seria possível reduzir os custos de transporte para níveis de US$ 0,7-1,2/kgH2 até 2050 (para 10.000 km) nas condições mais otimistas. No entanto, eles também podem ser mais altos em US$ 1,3-1,6/kgH2 para um cenário com menos inovação e coordenação global.
“Isso coloca o custo de transporte aproximadamente na mesma ordem de grandeza do custo de produção, o que significa que um exportador deve ter cerca de metade (dependendo da distância) do custo de produção de um importador para ser atraente”.
Algo que ainda está longe da realidade, já que hoje existem apenas pilotos para algumas das etapas.
“Olhando para o curto prazo, a amônia e os dutos existentes parecem ser os melhores lugares para começar”.
Segundo a Irena, mais de 120 portos já contam com infraestrutura de amônia e 10% da produção global já é comercializada. Quando a amônia renovável for produzida, ela pode ser misturada em qualquer proporção com amônia de origem fóssil sem demandar mudanças na infraestrutura — o que facilita o comércio inicial.
A amônia tem um mercado existente de 183 milhões de Mt/ano, que deverá crescer para mais de 600 Mt/ano em 2050.
IPO para amônia limpa
A Yara International anunciou na quarta (4/5) que avalia uma potencial oferta pública inicial (IPO, em inglês) de seu negócio Yara Clean Ammonia (YCA) na Bolsa de Valores de Oslo.
A possível listagem será focada em atrair investidores minoritários e faz parte da estratégia de desenvolver uma economia do hidrogênio, onde a amônia limpa será utilizada em combustíveis de transporte de emissão zero, geração de energia, produção de fertilizantes verdes e outras aplicações industriais.
De acordo com o planejamento de IPO da Yara, que permanecerá como proprietária majoritária e parceira preferencial da YCA, a divisão pretende expandir tanto upstream quanto midstream e downstream na cadeia de valor de amônia limpa. A previsão da empresa é que o mercado global cresça mais que o dobro do volume atual até 2050.
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No Brasil
Suape planeja novos investimentos em gás e hidrogênio… A administração do Porto de Suape (PE) espera recuperar em 60 dias a autonomia da gestão do complexo portuário e, assim, desburocratizar e acelerar os processos licitatórios.
O porto espera um desfecho sobre o assunto junto ao governo federal, num momento em que busca atrair investidores para a expansão da infraestrutura de gás — e, numa perspectiva de mais longo prazo, tem planos de se consolidar como um dos principais polos de hidrogênio verde do país.
Atualmente, Suape tem seis memorandos de entendimento com empresas interessadas na produção de hidrogênio verde no porto, com a Qair, Casa dos Ventos, Brid Logístic, White Martins/Linde, Neoenergia e Suape-Senai.
O projeto da francesa Qair, sozinho, pode representar investimentos da ordem de R$ 20 bilhões.
“Essas conversas ainda estão numa fase bem inicial. Ainda não é possível dizer o volume de investimentos que essas empresas farão ou quanto de energia que será produzido”, explica o diretor de Desenvolvimento e Negócios de Suape, Luiz Barros.
…e produtores de biodiesel buscam aliados. Para tentar reverter decisão do governo de reduzir o mandato de biodiesel para 10% até o final do ano, produtores buscam apoio do agro em uma proposta que será apresentada pela Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio).
As três associações do setor, Abiove, Aprobio e Ubrabio, se reuniram em Brasília esta semana com deputados federais e organizações do agronegócio. Entre eles, os deputados Alceu Moreira (MDB/RS), Danilo Forte (União/CE) e Pedro Lupion (PP/PR), vice-líder do governo na Câmara e presidente da FPBio; e diretores da Aprosoja, da Associação Brasileira de Proteína Animal e da Associação Brasileira de Criadores de Suínos.
O argumento é que a produção de biodiesel aumenta a oferta de farelo de soja, utilizado na ração animal, o que abriria espaço para baixar o custo de produção de proteína animal.
Também esta semana, o CEO da produtora de biodiesel BSBIOS, Erasmo Carlos Battistella, pediu apoio à política de biocombustíveis durante encontro da Organização Mundial do Turismo (UNWTO), na sede da ONU, em Nova York.
O executivo lançou o manifesto “a descarbonização precisa de biocombustível e o biocombustível precisa de aliados” pedindo políticas públicas claras e estruturas regulatórias estáveis para atrair novos investimentos.
Reproduzido do original: epbr
Amônia e rede de dutos: as apostas para transportar hidrogênio verde (epbr.com.br)