“Eu ia a bancos e as pessoas davam risada na minha cara”, conta o médico e empresário Ricardo Stoppe, de 53 anos, sobre sua experiência de tentar vender crédito de carbono em 2011. Dez anos depois, ele já comercializou cerca de R$ 100 milhões do produto e a intenção é faturar muito mais nos próximos anos. Se inicialmente Stoppe dedicou 150 mil hectares na Amazônia para comercializar crédito de carbono, agora são 500 mil hectares próprios e 1,5 milhão de hectares em parcerias com outros produtores.
“O mundo vai precisar de crédito de carbono para compensar as emissões, ainda mais agora, depois da COP-26 (Conferência das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas de 2021). E hoje já não tem o suficiente para atender a demanda”, diz o empresário.
A aposta no carbono começou quando o médico trabalhava no interior de São Paulo, mas investia em pecuária em Mato Grosso e Rondônia. Suas terras eram invadidas com frequência. Foi quando descobriu o mercado de carbono – que demanda monitoramento com imagens de satélite e sobrevoos para garantir a preservação da natureza, atividades que ajudam a inibir as invasões.
O modelo pelo qual Stoppe optou funciona como um incentivo para manter a floresta em pé na Amazônia. Os engenheiros calculam qual o porcentual de área desmatada na região em que o empresário detém terra. No ano seguinte, voltam ao local e verificam quanto foi desmatado. Se Stoppe consegue manter mais mata do que se calculava que seria destruído, o produtor converte essa diferença em créditos de carbono, que pode ser revendido a empresas interessadas em compensar suas emissões.
Quando Stoppe começou com seu projeto, investiu quase R$ 2 milhões na produção de crédito de carbono. Contratou engenheiros florestais e auditorias internacionais cadastradas por uma empresa certificadora. Representantes dessas auditorias vieram ao Brasil para checar a produção de Stoppe e o total de créditos que seriam emitidos. Quando o processo foi concluído, no entanto, ele não conseguiu vender seus créditos.
“Mal havia plataforma de comercialização naquele tempo, mas eu queria fazer porque achava a ideia de manter a mata e receber por isso muito boa. É difícil preservar na Amazônia. Uma guerra. Um faroeste. Tem madeireiro invadindo. Grilagem.”
Em 2019, quando plataformas que comercializam crédito de carbono começaram a aparecer, Stoppe conseguiu vender suas primeiras unidades. À época, recebeu US$ 2,50 por crédito. Cada crédito representa 1 tonelada equivalente de gases nocivos a menos no planeta. Hoje, o empresário consegue vender a US$ 12 no mercado. “A gente está pensando que deve alcançar US$ 30 em meados do ano que vem”, afirma.
A perspectiva de alta no setor já fez Stoppe investir R$ 250 milhões em terras e projetos de carbono, o que o transformou em um dos maiores produtores de créditos certificados pela companhia americana Verra, uma das organizações que prestam esse tipo de serviço. Segundo ele, desde que começou a obter mais de US$ 5 por crédito vendido, a atividade tornou-se rentável. “Está valendo a pena. Já tem muita gente comprando para investimento. Tem um investidor que comprou um milhão de créditos de mim. Ele está esperando a cotação chegar a US$ 30 para revender.”
Reprodução do original Estadão: